terça-feira, dezembro 15, 2015

Wi-Fi

Sou advogado, tenho mais de 30 anos de profissão, lido na área criminal, possuo um pequeno escritório na cidade, sou casado há mais de quarenta anos e, recentemente, fui obrigado a contratar uma estagiária muito bonita, muito inteligente e que possui uma ótima redação.

Pois bem... era sexta-feira, estava visitando um detento numa penitenciária e levei a estagiária, Abreulina, nesta minha visita. Depois de parlamentar com o cliente, entrei em contato, por telefone, com o responsável da vara de execuções para providenciar o que era de direito e fui informado que teria que manifestar nos autos em até 30 minutos, tempo que o juiz ainda estaria no Fórum. Se não fosse neste lapso temporal, minha apreciação seria vista somente na próxima quarta-feira, quando da volta do feriado prolongado.

Falei com a estagiária:

- Abreulina, tenho que manifestar agora nos autos...

- Vamos para o escritório, Dr...

Mas era humanamente, divinamente e capetadamente impossível atravessar toda a cidade em menos de 30 minutos. Trânsito, chuva, era impossível até em duas horas...

- Não dá, Abreulina... tem que ser numa lan house.

- Mas aqui não tem nenhuma, Dr...

- Puxa vida - já entrando no carro e seguindo ainda sem destino...

- O senhor está com o seu notebook?

Respondi que sim.

- E o seu token, está com o senhor?

Respondi afirmativamente.

- Então vamos para o motel. Eu sei a senha do Wi-Fi...

Aquilo me pegou de surpresa. Abreulina era uma jovem de vinte e poucos anos, pernas torneadas, seios firmes e fartos, um belo cabelo que percorria suas costas até chegar a cintura, um sorriso afável, um olhar meigo e dona de uma senhora boca! Aceleramos tudo, cheguei até a fazer o que nunca havia feito, que era passar de 120 km/h na rodovia, e finalmente chegamos ao tal motel...

- É aqui, é aqui, Dr..

Entramos. Confesso, novamente, que aquela experiência me remeteu a tempos, tempos atrás, quando era moço. Tinha uma Vemaguete 1965, xodó na época, e com ele fui pela primeira vez num motel... mas mesmo assim em outra cidade, porque aqui as moças, mesmo naquela época, eram mais recatadas, pudicas...

Entramos. Sentia um nó no peito, uma dor fantasma na região lombar, um suadouro infernal, mesmo com o ar condicionado ligado. Abri o computador e ela inseriu a senha do Wi-Fi do motel. Ato contínuo, enfiei rapidamente o certificado digital, digitei o texto e protocolei a manifestação. Ela deitada na cama, tomando uma Coca-Cola, já sem o paletó do casaquinho.

- Pronto! - falei, meio engasgado - já enviei.
- Então vamos embora, Dr...

Fechamos a conta e, quando estávamos saindo do motel, minha esposa e a amiga dela, filmando, nos pegam "com a boca na botija".

- SAFADO! PILANTRA! TRAIDOR! DESPUDORADO! VELHO TARADO!

Pôs o pé na porta do carro, me impedindo de sair. A outra amiga, também sexagenária, filmava tudo com um celular. Abreulina tentava, em vão, se explicar. E foi o barraco!!

As imagens foram parar na internet. Minha esposa saiu de casa, prometendo o divórcio. E meus amigos... bem, meus amigos, meus amigos da velha guarda, meus amigos da turma da rola cansada, ah, estes estão todos morrendo de inveja de mim, mesmo eu contando, mais de mil vezes, que fui naquele motel com a estagiaria só para me manifestar nos autos!

Atenção: conto totalmente fictício. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.