A quinta primavera do terceiro milênio.
No mundo atual convivemos com uma paradoxal ordem internacional. Por um lado a humanidade assiste perplexa a violência que tomou conta do planeta e, por incrível que pareça, paira um sentimento generalizado de que "aquilo que está acontecendo não é culpa minha". Assim todos pensam ao assistirem, em tempo real, os corpos despedaçados por todo canto.
Por outro lado, o pânico assola até a cabeça dos mais pequeninos, aqueles que deveriam ser a reserva de esperança de paz. A paranóia da violência é por sua vez a ironia de viver no meio desse caldeirão de bombas humanas, entremeados pela parafernália tecnológica criada para a morte.
Então a vida vai seguindo passo a passo para um desfecho, talvez, ou não sombrio, onde o simulacro da incerteza é hoje a baliza dessa ordem mundial assentada num triedo de fatos que são fundentes, resultando o renascimento por fórceps, da tridimensionalidade entre o velho, o atual e o novo.
O mundo de hoje não sei se posso chamá-lo de moderno, porque a antiga crueldade é apenas exercida hoje com a letalidade de armas mais eficientes, conquanto, os antigos bárbaros talvez se envergonhariam de ver a mortandade e o genocídio na moderna civilização.
Então seguimos quase loucos acreditando que tudo isso está certo; passamos por cima de cadavéricos pedintes e despistamos para não sofrermos com aquela visão fantasmagórica, e nessa loucura difusa, aceitamos friamente a morte desses corpos vagantes. Ora... justificamos, cumprimos a lei! Dura lex sed lex, esconjuramos o demônio da pobreza, eu não sou o culpado, não fui eu quem o fiz, vá de retro..., e saímos justificados depois da batalha com a droga do nosso travesseiro. E ainda, a manhã descortina, acordamos suados com a ressaca da insônia, tudo aquilo não passou de quimeras justificativas, a realidade então bate à nossa porta e descobrimos: cada um de nós temos o dever de desconstruir o que está posto.
Élcio Pacheco, grande amigo e detentor de uma das mais brilhantes mentes por mim conhecida, escreverá para Elucubrações Cerebrinas quando lhe der na telha! Vamos aguardar...