terça-feira, outubro 26, 2004

Cegueira.

Vago sem sentidos, olhos lacrados por nacos de escuridão, boca fechada, costurada, amarrada com palavras mentirosas que ouvi durante a vida toda.

Ando, não só, mas solitário. Ando sem parar, sem sentir o chão fumegante, fogo no asfalto, calor inebriante pintados em faixas de pare e de siga por este caminho.

Vagando deste modo não encontro ninguém. Se bem que de outra maneira, estaria sempre só, eu no meio do mundo, do nosso imenso mundo.

Vago sem sentidos, com ouvidos entupidos de nada líquido, pus e excrementos de palavras sórdidas ouvidas em tempos de paz, tempos de mortes, tempo em que ficamos calados por demais.

Ando e não encontro você. Nunca mais...

quinta-feira, outubro 07, 2004

Cidade diarréia.

Cospe em mim fuligem,
esporro de automóveis
e sobras de indústrias.
De baixo esgoto, garrafas
de merda reciclável,
dejetos de tudo quanto é sorte

Cidade diarréia, me suja,
me lambe, canta promessas
em ouvidos surdos...


Cidade mole, fétida e sem fim
Polis sem lei
Cidade sem regra
Homem mudo
Política cega.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Às vezes.

Às vezes dá vontade de gritar, de sair correndo pelas ruas desertas, fugindo do nada.

Às vezes não... ficar quieto, sem mexer um músculo sequer, parece ser a escolha ideal... só pensando no que poderá vir a acontecer. Pensar besteira, às vezes, também é bom. É salutar.

Às vezes corro pelas estradas, às vezes páro para observar paisagens: é tudo questão do momento, do viver, do aqui e do agora. Mas às vezes isso enche, dá nos nervos, ficamos inquietos.

Às vezes temos acessos de loucura, pensamos demais em nada, pensamos demais em tudo, pensamos no futuro... e o futuro, muito pensado, não é muito legal. Falta o principal, a surpresa.

Esta sim pode vir sem que saibamos: mas às vezes. Somente às vezes...

segunda-feira, outubro 04, 2004

O ser humano.

O ser humano é, por natureza, sociável. Sociável e passível de dominação. É gado, é rebanho. Rege, governa, é lider quem tem consciência que outros, também seus semelhantes, são passíveis de serem manipulados.

Assim foi nas eras primais, por meio da força física. Assim foi na Idade Média por meio da partilha de terra, dando origem aos feudos (demonstração clássica de supremacia de alguns em detrimento de milhares), onde a monarquia se sobreporia à plebe utilizando-se de uma pretensa ligação maior entre Deus. Glória aos dominantes... aos dominados, miséria extrema!

Esta fórmula está discretamente sendo utilizada por homens que detém o poder nos dias atuais. Dividem, separam para si o trigo, deixam o joio para os demais. Fazem isto no plano econômico, no plano social, no plano político e no plano religioso.

Sim... a religiosidade sempre foi uma das mais atuantes, completas e eficazes formas de alienar o ser humano. Gado: tapam-lhe, cercem a visão, mostram o que querem e manipulam-os ao seu bel prazer. Faz parte ainda do pensamento mítico do gado, pois é incutido no seu ser desde cedo que sempre há algo por trás dos acontecimentos; não ateem-se na lógica, imaginação de que existe algo divino por detrás de todas as fases da vida! Forma de dominação eficaz... é só olhar para os lados. Você consegue?

Inventaram a vingança divina há tempos. Aperfeiçoaram-na constantemente durantes estes inúmeros anos e tornaram tal pensamento (de prisão terrena temporária - libertação na morte para homens de bem) em forma de angariação de fortunas, de condutas religiosas rígidas, de amor extremado - ou seja, forma de dominação - em prol de alguns poucos conscientes da sua posição de dominante.

Pense nisso, gado...

sexta-feira, outubro 01, 2004

Big Bang.

Aconteceu que estamos vivos: eu, você, animais invertebrados, demais vegetais dependentes de clorofila, os plânctons, não podemos esquecer dos plânctons, o Clark Kent e demais alienígenas que povoam este ponto azul maravilhoso (mas o pau tá comendo aqui) carinhosamente chamado por nós de Planeta Terra.

Sim, estamos vivos... vivos por causa de um fenômeno que não temos certeza se aconteceu de verdade. É tipo um conscenso: algo deu origem à tudo isso que está à nossa volta. É o Big Bang.

Mas pode-se criar matéria do nada? Nesta vida nada se cria, tudo se transforma, não é? O que me preocupa neste momento não é com o começo, mas com o fim.

Algo deixou de existir um dia para que você, hoje, estivesse aí lendo este texto.

Pense nisto.