segunda-feira, abril 25, 2005

... depois da guerra.

Do corte profundo vaza as mazelas da cidade: o odor do ser humano em profusão com o ocre da paisagem urbana.

Nada mais a se ver do que o líquido espesso e rubro que corre vagarosamente para os buracos abertos no chão. Nada mais do que o céu negro, pó de ossos misturados com poucos raios do sol, a refletir nas retinas secas daqueles míseros viventes. Não há mais alegria na cidade podre, sem governo, sem destino. Não há música, não há cantos, não há nenhum deus para orar... não há mais nada: tudo que houve um dia desapareceu com o fogo, o ácido, o gás e o chumbo.

Alguns sobrantes vagueiam por entre destroços de edifícios caídos e pedaços de pássaros de aço; alguns, em carne viva, esgueiram-se e procuram restos ou qualquer coisa que se possa comer por entre covas rasas, covas abertas por ninguém, no chão calcinado.

Daquele corte vaza também o último suspiro de vida do ser humano, mas não há esperança para ninguém depois da guerra.